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Resposta a Bolsonaro

Casal de sargentos do Exército diz que as falas do deputado são a reação de uma cúpula conservadora das Forças Armadas.

por Redação MundoMais

Segunda-feira, 04 de Abril de 2011

Fernando (esq.) e Laci: Bolsonaro é parte da cúpula do Exército que tem uma visão autoritária e conservadora do mundo.Fernando (esq.) e Laci: Bolsonaro é parte da cúpula do Exército que tem uma visão autoritária e conservadora do mundo.

Laci Marinho, nascido no Rio Grande do Norte há 39 anos, é um sargento do Exército. Fernando Alcântara, pernambucano de 37 anos, é também sargento do Exército. Eles são a prova viva de que o ódio do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) aos homossexuais não é, como ele esforça-se para expressar, um sentimento comum a todo e qualquer soldado das Forças Armadas. Porque Laci e Fernando são, eles próprios, homossexuais. Eles são um casal. “A verdade é que a visão ultrapassada de Bolsonaro reflete hoje o pensamento de uma minoria dentro das Forças Armadas. Mas, infelizmente, uma minoria que tem muita influência”, diz Fernando. Para ele, esse pensamento conservador, resquício da mentalidade de militares mais velhos, que fizeram sua carreira durante a ditadura militar, é muito forte na cúpula das Forças Armadas, entre os seus comandantes. Na tarde de sexta-feira (1), ele e Laci deram uma entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.

Para Fernando e Laci, Bolsonaro tem sido uma espécie de porta-voz não formal do pensamento dessa elite militar. “Eles armam o circo, e Bolsonaro, o palhaço se apresenta”, ataca Laci.

Fernando e Laci tornaram-se famosos em agosto de 2008. Na capa da revista Época, eles viraram o primeiro casal de homossexuais a assumir claramente a sua orientação. A entrevista que deram à revista foi a forma escolhida pelo casal para denunciar a situação que viviam. Por conta da sua orientação sexual, os dois vinham sendo perseguidos. A homossexualidade foi a desculpa encontrada, contam eles, principalmente para calar Fernando. Considerado então um militar de reputação ilibada, com várias condecorações, Fernando tornou-se responsável por uma seção do Exército que autorizava, no plano de saúde, cirurgias de alto custo. Verificou a existência de um esquema de fraudes nessas autorizações. Ao denunciar o fato, ele conta que começou a ser perseguido. “Fizeram uma devassa na minha vida para encontrar fragilidades. E a fragilidade encontrada foi a minha homossexualidade”, diz ele.

Companheiro de Fernando, Laci era mais frágil. Tinha a saúde afetada por um problema neurológico. Iniciou-se um processo para minimizar os problemas de saúde de Laci, para obrigá-lo a trabalhar mesmo doente. Como Laci não conseguia comparecer ao serviço quando estava doente, foi considerado desertor, e chegou a passar 58 dias preso. Por conta da homossexualidade, foi Laci quem primeiro chamou a atenção. Nas suas horas de folga, ele tinha uma banda, onde fazia cover da cantora Cassia Eller. Hoje, ele tenta obter a reforma – aposentadoria – por conta da doença. Já Fernando preferiu desistir de enfrentar um processo disciplinar e deixou o Exército.

Para ambos, sua situação, por mais que os tenha feito sofrer, é o sinal de que as mudanças que acontecem na sociedade refletem-se também nas Forças Armadas. E a agressividade de Bolsonaro é uma reação a essas mudanças. Ou talvez, como sugere Laci, uma reação particular de cunho psicológico. “Tenho plena convicção de que ele é um gay internalizado. Que, sozinho, em frente ao espelho, ele diz: “Eu sou uma bichona!’”.

Confira alguns trechos da entrevista dada ao Congresso em Foco:

Toda vez que surgem polêmicas como essas das declarações de Jair Bolsonaro, surge a ideia de que a carreira militar é incompatível com a homossexualidade. Como vocês respondem a essa ideia?

Fernando - O deputado Bolsonaro é uma voz remanescente de uma turma que está vinculada a um pensamento ultrpassado, arbitrário, antidemocrático. A questão da opção sexual jamais vai definir o caráter de qualquer profissional, independentemente do ramo de trabalho. O que existe nas Forças Armadas é um grande tabu, vinculado à ideia da necessidade de uma certa virilidade para o combate. Dissemina-se a ideia de que um homossexual não teria a autoridade necessária para o comando.

E isso é verdade?

Fernando - Existem líderes militares históricos, comandantes de grandes exércitos, que eram homossexuais. O caso, por exemplo, de Alexandre, o Grande. A tropa, de um modo geral, conhecia a sua orientação sexual, e isso jamais o impediu de ter grandes vitórias militares. É verdade, era um outro tempo, uma outra cultura. Essa perseguição à homossexualidade cresce com o cristianismo. Mas o fato é que a opção homossexual de Alexandre, o Grande, o não o impediu de ser um grande soldado. Além disso, é uma grande mentira achar que os únicos dois homossexuais no Exército éramos eu e o Laci.

Vocês não são um caso isolado, então?

Fernando - Estamos longe de sermos um caso isolado. O fato de nós dois termos saído do armário, como se diz, não significa que eu deva cobrar o mesmo de outros que não queiram fazê-lo. Mas a gente conhece ene casos de até generais que são homossexuais. Eu já vivi experiências muito desconfortáveis de ter sido assediado dentro da caserna. E nem por isso deixei de obedecer ao comando dessas pessoas. Claro, não se pode aceitar assédio, porque é um comportamento que não cabe em nenhuma profissão. Mas não é pelo fato de ser homossexual que essa pessoa não tenha capacidade de comando.

Mas ainda seria muito forte o preconceito nas Forças Armadas?

Fernando - Quantos comandantes negros nós tivemos? Quantas mulheres em postos de comando? Ninguém. Mas eu acredito que a fala de Bolsonaro hoje é representativa de um pequeno grupo. Mas de um pequeno grupo que ainda tem muita capacidade de influência. Não é muito diferente de como pensam os principais comandantes e generais do Exército. O Bolsonaro funciona como um mal necessário. Ele não reflete o comportamento institucional do Exército que até,por força da disciplina, evita se manifestar em questões polêmicas. Como o Bolsonaro não tem esse compromisso, aciona-se ele. Curioso que o Bolsonaro se diga representante dos militares, enalteça tanto os militares, e já há muito tempo ele não seja um militar.

Ele não seria tanto assim representante dos militares?

Fernando - Não no sentido de realmente discutir e ser capaz de concretizar os anseios dos militares. Por que, por exemplo, ele não discute por que o soldado, na ativa, não possa votar e ser votado? O soldado é cidadão de segunda classe? Por que não discute o absurdo de um soldado ser preso disciplinarmente e não ter direito a habeas corpus? De não ser julgado pela mesma justiça dos demais cidadãos? Por que não discute os códigos militares obsoletos? A questão da remuneração dos militares, cada vez mais aviltada?

Laci – Eu penso que Bolsonaro, na verdade, é um malandro que finge ser representante dos militares para viver de dinheiro público. Como militar, que eu ainda sou, eu vejo que ele é totalmente desacreditado na instituição. Ele é usado pela cúpula para dar esses recadinhos, pra fazer esse auêzinho. Mas, no meio, ele é desacreditado. Acham que ele é um palhaço.

Fernando – A gente fica buscando algo de concreto que ele tenha feito pela família militar, e não acha.

Laci – Ele tem o circo montado. Ele é o palhaço para angariar os votinhos dele. Na verdade, eu tenho plena convicção de que, na verdade, o Bolsonaro é um gay internalizado, um homossexual dentro de uma concha.

Você tem convicção disso? Que o ódio dele aos homossexuais vem daí?

Laci – Ele vê no espelho um homossexual e quer matar, destruir ele mesmo. A voz dele tem que ecoar para os quatro cantos do mundo e dizer: “Eu não sou isso! Eu não sou isso!”. Mas quando ele olha no espelhinho dentro de cada, ele deve dizer: “Eu sou uma bichona!” Ele deve ficar com vontade de quebrar o espelho. Garanto que ele quebrou muitos espelhos na cada dele.

Fernando – Quando você é heterossexual convicto, porque a homossexualidade vai lhe incomodar tanto?

O que pode acontecer com quem claramente se manifesta, por exemplo, a favor de vocês?

Fernando – Há diversas formas de punição, também veladas. Pode-se alegar um outro motivo para punir. Ou mesmo criar dificuldades para a vida do militar. Imagine o transtorno que é para um militar, por exemplo, que está com a sua vida estruturada, filhos na escola, ser de uma hora para outra transferido para outra cidade. Muitas vezes, alega-se a necessidade dessa transferência para punir alguém. E o soldado, para manter a sua vida estável, se cala. É mais fácil a pessoa se acovardar. No caso do Laci, 18 médicos se envolveram para criar a história de que ele era um desertor. Cumprimento do dever não tem outro nome, às vezes, que covardia, não ter coragem de reagir a isso. Por outro lado, se você reage, acontece como está acontecendo conosco. O que eu vou fazer da vida? Eu tenho 15 anos de vida no Exército, com uma ficha considerada irrepreensível, diversas condecorações. Nunca fiz outra coisa. Não sei fazer outra coisa. Então, a gente não pode ser tão taxativo ao condenar quem se cala. Mas não deixa de ser uma forma de covardia.

Quando vocês entraram no Exército, vocês já tinham assumido a orientação sexual de vocês? Como isso surgiu?

Fernando – No meu caso, foi muito difícil a descoberta da homossexualidade. Eu vim de uma família muito católica, muito conservadora. A Igreja é muito perversa nesse sentido, de que tudo é pecado, que se desvia da dita normalidade. Então, no meu caso, essa descoberta durou muito tempo. Quando eu entrei no Exército, eu ainda não tinha essa convicção do que de fato eu era como ser humano. Eu sentia necessidade de experimentar, mas não tinha coragem. O despertar aconteceu já nas Forças Armadas. E o que isso mudou na minha carreira militar? Nada. Isso me traz uma mágoa muito grande. Por que, de uma hora para outra, eu já não era mais o soldado de ficha ilibada, com medalhas por bons serviços prestados à Nação?

E no seu caso, Laci?

Laci – Para mim, foi uma coisa mais natural. Antes de entrar no Exército, já sentia atração por pessoas do mesmo sexo. Na minha juventude, meus relacionamentos eram com mulheres, mas eu tinha atração por homens. Eu não tive problema na cabeça com relação a isso. Se eu gostasse de uma mulher, ficaria com uma mulher. Se gostasse de um homem, ficaria com um homem. Na minha cabeça, era assim.

E a perseguição, como começou?

Fernando – O ano que marcou tudo foi 2006. Desde 2001, o Laci tinha um problema neurológico que o afastava de algumas atividades. Ele tem umas síncopes, umas vertigens, que o atacam de vez em quando. E durante muito tempo, o Exército aceitou isso. Em 2006, ele ficou de cama um bom tempo. Mas, na verdade, a perseguição começou sobre mim.

O desejo de vocês, ao final do processo, é a reincorporação às Forças Armadas?

Fernando – No caso do Laci, ele ainda é soldado.

Na ativa?

Laci – Estou na ativa. De licença médica, agora.

Fernando – Eu saí. Fui obrigado a sair. Eles começaram um processo de expulsão. Seria um processo demorado. Enfrentar esse processo iria me atrapalhar. Na defesa de Laci. Eu depois escrevi um livro. Eles me deram uma porta de saída. Eu saí.

Laci – No meu caso, há um processo de reforma, por meus problemas de saúde. Eu, normalmente, já deveria ter sido reformado – aposentado – pelos meus problemas de saúde. Mas isso não aconteceu por conta dessa perseguição.

Fernando – O que a gente sofreu, não há dinheiro que pague. Vai ficar marcado para o resto das nossas vidas. O reconhecimento da perseguição homofóbica ajudaria a diminuir esse sentimento de injúria que sofremos. E serviria como exemplo para outros casos não aconteçam. Porque, insisto, o nosso caso não é um caso isolado.

09-04-2011 às 09:33 Ricardo Pessoa Lindenberg, por
Aliás, por falar no épisódio do canal de tv brasileiro, uns e outros parlamentares aí podem acabar se tornando bode expiatório, hein??Podem até ser a bola ou a bolsa da vez!!! Que péssimo momento para se desejar revolucionar moralmente por conta própria. De vagar com o andor que o santo é de barro.E o deputado se enrolou todo!!!! Francamente...Para quem depende de votos, ele falhou mesmo.Me lembrou uma música interpretada pela Marina Lima>>Prá Começar !!
09-04-2011 às 08:48 Ricardo Pessoa Lindenberg, por
Claro que cabe urgentemente um debate entre as possibilidade de utilização de cada termo, tipo: condição, opção e orientação. É certo que caberão todos esses termos entre tantos outros que já foram utilizados e outros que ainda virão. O dinamismo do idioma permite o transito do linguísta de um termo para outro. A causa pode passar pela utilização de termos corretos, mas em sim não constitue unicamente o objeto buscado. Assertivamente o reconhecimento dos direitos de pessoas à vida e garantias de suas escolhas por uma lado anseia pela retidão de um vocabulário apropriado e um noção primaz de vocação pessoal e planejamento estabelecido por este ou por aquele ser, mas paralelamente encaminha de modo prioritário a um processo que envolve característica básicas de existêncialidade.O mais importante e prioritário é a vida e o sentido e desafio que ela nos sugere.Depois as frivolidades de um ou outro douto linguísta mais ou menos culto.
06-04-2011 às 02:27 RDO
Como conhecer um aonde em BSB que rola paquera? Lugar fechado? Aeronautica, ou Marinha quero um.
06-04-2011 às 02:18 RDO
Eu quero um cara legal, simpático estudado com nível superior da aeronautica,ou marinha, alguém de BSB? de 30 até 43 anos?
05-04-2011 às 20:23 Heros
Sexualidade é uma questão de opção?
05-04-2011 às 17:42 lucas
Eu não entendi, talvez eu não tenha me expressado de maneira clara na minha colocação, queria dizer que não é correto o mundo mais, ficar reafirmando o termo “opção sexual” como já vi em varias matérias, quando o correto deveria ser “orientação sexual”. Onde isso tem a ver com:” Lucas acorda. O que vc está fazendo em um site gay. E da patrulha do deputado. Um nojo! Dá vontade vomitar. Fora já.” Por favor me explique???
05-04-2011 às 12:33 alex
vamos asinar a petição para caçar o mandato do dep. ai divulgue com seus amigos e-mails
05-04-2011 às 12:30 alex
PETIÇÃO PARA CASSAÇÃO DO MANDATO DO DEPUTADO FEDERAL JAIR BOLSONARO (PP-RJ) ww.change.org/petitions/petio-para-cassao-do-mandato-do-deputado-federal-jair-bolsonaro-pp-rj#?opt_new=t&opt_fb=t
05-04-2011 às 11:06 Para Lucas
Lucas acorda. O que vc está fazendo em um site gay. E da patrulha do deputado. Um nojo! Dá vontade vomitar. Fora já.
05-04-2011 às 11:04 Pedro
Qual "interesse" da Folha e UOL em dar destaque para esse Bostanário todos os dias. Estranho! Um homem que não vai acrescentar nada ao Brasil. Um ditador. Parece uma figura caricata. Está parecendo a Globo promovendo o ex-presidente Collor de Mello, quando o mesmo era candidato. Esse Senhor não é nada. E nada não se promove. Deixei de assinar o Portal UOL e a Folha. E Pronto! É colocando a mão no bolso dessa imprensa camuflada de democrática que chagaremos ao topo, a verdadeira democracia. O jornal do Brasil não fechou as portas? Abç