por Redação MundoMais
Quinta-feira, 09 de Junho de 2011
ACRE - Eleito o melhor filme, pelo júri e público do Festival de Paulínia em 2010, Eu Não Quero Voltar Sozinho teve sua exibição censurada no estado do Acre. O curta-metragem de Daniel Ribeiro integra a programação do Cine Educação, programa que traz a arte para dentro da sala de aula.
Nós publicamos aqui no MundoMais o curta na íntegra. Para assistir, clique aqui.
De acordo com o diretor e a produtora Diana Almeida, Eu Não Quero Voltar Sozinho, que fala de um garoto cego que descobre o surgimento da paixão por um novato no colégio, foi escolhido por uma docente e projetado aos alunos da Escola Armando Nogueira, de Rio Branco, capital do Acre. A introdução da arte no cotidiano escolar é um dos princípios da Lei de Diretrizes e Bases (LDB).
A exibição foi levada ao conhecimento de líderes religiosos, que pressionaram políticos do Estado para proibir não só a exibição do filme, mas ocasionar o cancelamento do Cine Educação. O projeto é realizado em diversos locais do país, resultante de parceria da Cinemateca Brasileira, a consultoria Via Gutenberg e as Secretarias Estaduais.
De forma arbitrária, em uma república federativa cuja Constituição atesta um Estado laico, a sociedade está sendo privada de promover debates. Como pretendemos que adolescentes consigam respeitar a diversidade e formem-se cidadãos lúcidos, pensantes e ativos se informação, arte e cultura (sem qualquer caráter doutrinário) lhes são negadas?, questionam diretor e produtora do filme.
Este é o segundo episódio recente de um projeto educativo organizado, em parte, pelo governo, que é afetado por lobby de setores religiosos. No fim de maio, o Kit Anti-Homofobia, materiais impressos e em vídeo que seriam distribuídos a estudantes para orientar em como lidar com a diferença e promover o debate em torno da sexualidade, foi cancelado por pressão da bancada evangélica no Congresso. Na ocasião, os deputados ameaçaram pressionar o já ameaçado ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, às voltas com suspeitas de enriquecimento ilícito, se o kit não fosse suspenso.
Eu Não Quero Voltar Sozinho não é um filme proselitista, tampouco ergue bandeiras de nenhuma natureza. É apenas uma obra de ficção amplamente premiada em festivais de cinema no Brasil e no exterior, cujos predicados artísticos e humanos transcendem qualquer crença. Ademais, se assuntos referentes à orientação sexual dos indivíduos e seus respectivos direitos civis está na pauta do Supremo Tribunal de Justiça e do Congresso Nacional, por que não debatê-los em sala de aula? Que combate sombrio é esse, que reacende a memória de um obscurantismo Inquisidor?, dizem em nota o diretor do filme, Daniel Ribeiro, e produtora Diana Almeida.