por Redação MundoMais
Sexta-feira, 18 de Novembro de 2011
Como muitos cantores na maturidade, Ney Matogrosso consolidou - sobretudo a partir da década de 1990 - um caminho de elegância, mais contido. Como poucos outros, porém, ele não entendeu isso como uma espécie de aposentadoria do tesão - pelo sexo, pela vida. Isso fica evidente na caixa "Metamorfoses" (Universal), que reúne (em 15 CDs de carreira e um duplo de raridades, comentados nesta página pelo artista) a segunda metade de sua obra discográfica, de 1993 a 2009 - a primeira parte está na caixa "Camaleão".
A sexualidade tem força política. Meu sexo exposto no Secos & Molhados era uma transgressão. Hoje o mundo é mais careta por um lado, mas por outro lado temos avanços na legislação sobre união civil gay, por exemplo. Mas faço um questionamento ao movimento gay. São 4 milhões na parada de São Paulo. Isso muda uma eleição presidencial, não pode ficar só de quiquiqui. O direito não é só para ficar no alto do carro se beijando.
Elegância e tesão para mim não estão separados, é tudo a mesma coisa. Só não será mais assim quando não houver mais interesse meu, o que virá quando o físico não aguentar - afirma Ney. Essa coisa de cantar de um jeito cool é que não me agrada. Fica todo mundo igual. Eu me envolvo.
Com a idade, Ney explica, veio a compreensão do que é um disco, o que o levou à contenção:
No show é tudo mais, é exagerado. O disco tem que ser menos. Demorei a entender isso, só percebi nos anos 1980. "Bandido" (de 1976) eu não gosto, porque cantei como num show, ficou exagerado.
Com o físico permitindo o desejo e a experiência levando à contenção, Ney conseguiu combinar requinte e sensualidade, calor de romantismo brega e sofisticação bossanovística ao longo de todo o período coberto pela caixa. Há exemplos óbvios - "Estava escrito" (dedicado a Angela Maria), "O cair da tarde" (sobre Tom Jobim e Villa-Lobos), "Batuque" (anos 1930 e 1940), "Canto em qualquer canto" (com quatro violões) -, mas a postura está em todos os discos.
O encontro com bandas prontas, comum para ele, aparece na caixa em trabalhos com Aquarela Carioca, Uakti e Pedro Luís e A Parede.
Talvez seja uma saudade de não ser sozinho - diz o cantor, que surgiu no "Secos & Molhados". Mas nunca é algo para trás. A ideia é sempre ir para a frente.
É o hoje, diz Ney, que amarra um repertório que, na caixa, pode ir de canções da primeira metade do século XX ("Estava escrito", "Batuque") até jovens compositores ("Olhos de farol", "Vagabundo"):
Não importa de quando é a canção, quero que ela seja ouvida como se fosse moderna.
Novo CD em preparação
A caixa inclui textos sobre cada CD - escritos pelo organizador do projeto, Rodrigo Faour - e o CD duplo "Metamorfoses", com faixas feitas para trabalhos especiais (como songbooks) e CDs de outros.
O futuro? Ney cantarola versos de Paulinho da Viola ("Não sou eu quem me navega/ Quem me navega é o mar"). Conta que participará do show de Dan Nakagawa (dia 23, Studio RJ) e voltará ao "Circo Voador" (9/12). E pensa no novo CD.
Já existe um repertório sendo feito. Será pop, não sei se será rock. E terá Paulinho da Viola.