por Redação MundoMais
Quarta-feira, 23 de Abril de 2014
Não há sutileza no novo trabalho do duo francês de fotógrafos Pierre et Gilles. O retrato, exposto numa galeria de Paris, traz a ex-prostituta argelina Zahia Dehar na pele da rainha francesa Maria Antonieta, segurando a barriga com uma das mãos e levando uma virginal rosa na outra. Zahia ganhou as manchetes na França ao acusar o famoso jogador de futebol Franck Ribery de contratá-la quando ela ainda era menor de idade. Ele foi absolvido da acusação de fazer sexo com uma prostituta de menor de 18 anos.
O retrato é um exemplo de como Pierre Commoy e Gilles Blanchard construíram uma carreira conjunta forçando os limites, numa provocação constante, que eles dizem ser um pouco inconsciente. Parceiros no trabalho e também na cama, a dupla começou a fazer os retratos homoeróticos pintados à mão há quase 40 anos.
"Nós fazemos isso naturalmente. E algo que pode perturbar, mas os artistas são feitos para isso. Chacoalhar as coisas para provocar reflexão nas pessoas”, argumenta Gilles, o mais falante do duo.
Atualmente, retratos produzidos pelo duo de estrelas como Madonna, Kylie Minogue, Mick Jagger e Catherine Deneuve têm a mesma importância das representações que eles fazem de astros do pornô gay nus em cenas fantásticas. Ambos os tipos de imagem compõem os livros de arte que decoram mesas de centro em casas de diversos cantos do mundo.
Da mesma maneira que fizeram com o retrato de Zahia, Pierre et Gilles sempre desafiam o preconceito contra as minorias raciais e sociais com seu trabalho. Uma representação pornográfica de Adão e Eva e uma ilustração de Jesus se contorcendo na cruz são exemplos disso.
Curiosamente, Pierre et Gilles são bastante introvertidos e raramente dão entrevistas, contrastando com a natureza explicita de suas obras. Mas este paradoxo se encaixa com a arte de fotógrafos que gostam da força intrínseca da contradição.
Em 2013, quando a França legalizou o casamento gay, a dupla chamou atenção com um autorretrato que mostrava os dois recém-casados abaixo de uma foto do presidente francês François Hollande sorridente na capa do jornal de esquerda francês Libération.
Agora um item de colecionador, o autorretrato foi visto como tentativa irônica de aliviar o furioso debate a respeito do casamento gay na França, que levou milhares de opositores e apoiadores às ruas do país.
“O debate ficou tão sério, incômodo e perturbador na França que sentimos a necessidade quebrar essa atmosfera pesada. Trazer [a discussão] para um clima mais bem-humorado e divertido”, explica Gilles. "Em outros países como Inglaterra, [o casamento gay] foi aprovado mais rapidamente, e de forma simples. Isso me chocou e me surpreendeu. Isso significa alguma coisa, significa que algo escondido dentro das pessoas saiu. É por isso que temos que ser ainda mais radicais", completa o fotógrafo.
Pierre et Gilles encontraram a fama nos Estados Unidos com uma grande retrospectiva em uma galeria de Nova York, em 2000. Doze anos depois, em 2012, o nível de notoriedade subiu ainda mais com a exposição internacional "Vive la France".
Em "Vive la France", uma foto homoerótica trazia três jogadores de futebol nus - um negro, um árabe e um branco - representando a diversidade social na França e fazendo uma alusão a bandeira tricolor do país.
O cartaz da mostra que trazia a foto dos jogadores causou clamor na conservadora Áustria, os genitais dos jogadores chegaram a ser cobertos em alguns lugares de Viena.
Especulando sobre o motivo do clamor, Gilles lembra que as pessoas costumam ser bastante abertas em relação à nudez em Viena "Se tivesse sido um homem loiro nu ao lado de uma bela jovem, com céu azul ao fundo, talvez não tivesse havido nenhum problema”, provoca o fotógrafo, mostrando que não perdeu a forma.
Confira algumas fotos: