por Roberto P. C. Filho
Quinta-feira, 04 de Dezembro de 2008
Naquela tarde, Pedro chegara na cinzenta e fria São Paulo dos anos 70. Não sabia muito bem o que encontraria pela frente, afinal estava na maior cidade do país, onde todos os sonhos tornam-se reais, segundo aqueles que aqui já estavam. O rapaz de 20 e tantos anos, tímido, magro e olhos azuis trazia consigo uma mochila e uma pastinha com sua pouca documentação. Dentre os documentos estava seu certificado de concluinte de 2º grau e um diploma de datilógrafo. Por onde começar? Pensava consigo mesmo. Vendo todo aquele movimento, havia um misto de êxtase e temor dentro de si. Parou em frente ao Colégio Caetano de Campos, situado entre as árvores da praça da República, e ali ficou a olhar as normalistas e estudantes do propedêutico. Estava feliz em ver tantos jovens belos e alegres saindo do majestoso colégio.
Foi quando de repente, em sua direção, vieram três rapazes que começaram a zombar de Pedro, chamando-o de pau-de-arara, cabeçudo, retirante. A primeira atitude do rapaz foi querer reagir, mas não houve tempo. Naquele momento, ele descobriu que o sonho de cidade poderia ser, ou já estava sendo, um pesadelo. Foram socos, pontapés, tapas... sangue... lágrimas... desmaio...
Ao recobrar a consciência, percebera que alguns transeuntes o observavam e entre estes surgiu um policial truculento, alto e bravo - muito bravo - com aquele tumultuo causado pelo jovem.
–– O que está acontecendo? Mais um vagabundo fazendo bagunça com a cara cheia de cachaça, né?
As pessoas se afastaram. Pedro, assustadíssimo com aquela situação, não teve tempo hábil de se explicar. Tentou, mas não conseguiu. O policial se aproximou, e já começou a falar... xingar... resmungar e pedir os documentos. Foi quando Pedro percebeu que seus documentos tinham desaparecido. Nesta situação, nada mais poderia fazer a não ser chorar, chorar, chorar muito. O soldado Teles, vendo aquela cena, acabou ficando com pena do pobre rapaz e resolveu conversar com ele para saber do ocorrido.
–– Qual é o seu nome, rapaz?
–– É Pedro dos Santos, senhor - respondeu timidamente o jovem.
E Pedro começou a narrar toda a sua história. Falou da saída de Vertente, no sertão, passando por Fortaleza e a chegada à Capital dos seus sonhos. Teles, compadecido com a narrativa, viu surgir um sentimento misto de admiração e algo que nunca, jamais sonhara sentir por outro homem. O soldado da PM, de 30 anos, casado, pai de duas filhas lindas, estava embevecido com os olhos azuis avermelhados de Pedro, a sua voz arrastada, grossa e ao mesmo tempo mansa.
Ele tinha que fugir dali, deixar o rapaz imediatamente. Isto não poderia estar acontecendo com ele! Não com ele! Já ouvira histórias de colegas, mas ele era muito homem, homem de verdade. No entanto, como dizer para aquele moleque ficar ali sozinho, sem dinheiro, sem documento, sem ninguém para protegê-lo? Ele estava apaixonado.
Pedro não percebera nada, viu que Teles o observava atentamente e sugerira que fosse para um hotel descansar. Ele respondeu que não poderia pagar, pois não tinha um tostão nos bolsos. O PM falou-lhe que não havia problema, que ele lhe emprestaria o dinheiro e depois o rapaz devolveria. O rapaz achou estranho, mas em São Paulo as pessoas podem ser diferentes, amigáveis; não como aqueles três que o atropelaram como um trem de ferro... Aceitou a oferta e foram para um hotelzinho barato na Amaral Gurgel. Chegando lá, Teles, ainda de uniforme, causou estranheza entre os diversos hóspedes: putas, travestis, lésbicas, bêbados etc... mas ele não tomou conhecimento, pediu um quarto e subiu. Pedro perguntou-lhe:
–– Você ficará comigo aqui?
–– Sim, por algum um tempo, posso? - indagou Teles.
–– À vontade, é o senhor que está pagando - respondeu dando uma risadinha inocente.
Teles também riu. Entraram no quarto, o soldado tirou a arma, colocou-a numa mesinha e sentou-se. Disse que Pedro deveria tomar um banho para limpar-se do sangue. Naturalmente Pedro concordou e foi tirando a roupa. O sangue de Teles começou a ferver em suas veias, ao ver aquele moço de corpo perfeito, lisinho como anjo, mas de membro muito distantes dos querubins barrocos. Pedro, nu como veio ao mundo, entrou no banheiro para se lavar. Teles não se conteve e foi até a porta do banheiro minúsculo. O outro de dentro pergunto-lhe:
–– Quer tomar banho também?? Com risinho safado. Afinal tinha cara de anjo, mas um fogo do cão!
Teles, meio sem jeito, pois era a primeira vez que aquilo estava por acontecer, aquilo que ele nem sabia o que era... mas que parecia ser bom, muito bom... Tirou a roupa e saltou de dentro dela um homem forte, musculoso, viril em todos os sentidos. Adentrou o pequeno ambiente (não havia muito espaço) o que fez com que os dois corpos ficassem muito, mas muito próximos mesmo, e num êxtase de volúpias e prazer começaram a se beijar, a se abraçar! Ambos estavam numa nova experiência... quentes.
Saíram molhados do banheiro, se abraçando, e os corpos unidos nus deixaram-se cair na cama daquele quarto barato, nada romântico, mas que naquele momento parecia o Olimpo com dois deuses se amando. Nada mais importava no mundo. A volúpia foi tanta que não precisou haver nada além de toques para que ambos chegassem ao ponto máximo do amor, sexo, ou como queiram... Gozaram muito e foi muita felicidade, parecia que iam explodir.
Teles lembrou-se que tinha uma família. Pedro resolveu que não tinha mais nada a fazer na cidade grande, e foi tentar a vida numa cidade do litoral paulista, onde, de vez em quando, ele recebe a visita da polícia, ou melhor, de um policial.