por Redação MundoMais
Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013
Quem frequenta a cena gay já se deparou com eles por aí, nas baladas, festas e bares. Sem falar nos aplicativos de encontros. Barbudos, cheinhos, peludos, e muitas vezes vestidos com uma camisa de flanela xadrez, eles se autodenominam como ursos.
Surgida originalmente nos Estados Unidos na década de 60, a tribo dos ursos nasceu com a proposta de se contrapor ao estereótipo gay malhado, depilado e com roupas grudadas ao corpo. Ao logo das décadas seguintes, o grupo foi desenvolvendo as características citadas acima.
No Brasil, essa turma é cada vez maior, com baladas específicas na noite gay, redes sociais próprias, revistas segmentadas e comunidades online.
“A gente não gosta de modismo, não existe essa coisa de depilação, academia e moda. Os ursos não são nem muito adeptos da bandeira do arco-íris e sim da sua própria bandeira”, explica o fotógrafo Marcelo Gomes de Andrade , 43, citando a flâmula com faixas nas cores preto, branco, amarelo e em tons de marrom, com uma pata as sobrepondo.
Também da tribo, o publicitário Guilherme Almeida , 25, defende a ideia de que a ‘comunidade ursina’ é a representação da luta contra a estética da beleza. “Nem sempre o urso é gordo, é mais uma questão do pelo, é muito bacana você conviver com pessoas que não se importam com depilação ou só com o físico”, constata Guilherme, que conheceu esse universo numa viagem de intercâmbio para a Austrália, durante a sua adolescência.
“Eu costumo ir apenas as lugares de ursos, é lá que me sinto acolhido”, confessa Guilherme, que rebate a ideia de que a comunidade ursina é muita fechada. “Se eu vou para a The Week, aqui em São Paulo, também não vou me sentir acolhido. Não estarei entre pessoas que me atraem esteticamente e nem vou agradá-las também”, argumento o publicitário, fazendo referência a famosa balada paulistana conhecida pelos frequentadores sarados e depilados.
Guilherme se sente tão à vontade neste universo que até foi parar nos Estados Unidos para participar de um encontro de ursos no último mês de julho. O evento, chamado Provincetown Bear Week, aconteceu na cidade de Provincetown, em Massachusetts.
“É incrível, tem programação o dia todo. De jogos na praia às festas com os temas lenhador, bombeiro, luta-livre e roupas de couro. No fim, você não aguenta mais homem peludo na frente”, brinca o publicitário.
Chasers, cubs, polar bear e mais
A tribo tem até um grupo de admiradores. Identificados como ‘chasers’ (caçadores em inglês), eles não têm todas as características dos ursos, mas são bem aceitos na comunidade ursina. Magro, o estudante carioca Daybes Antônio Gomes , 22, é um deles.
“Eu ia para as baladas e entrava em aplicativos tipo o Grindr e o papo não me interessava. A estética também não. Aí descobri que havia essas pessoas mais peludas, gordinhas, e comecei a frequentar”, relata Daybes, que exalta a cena do Rio de Janeiro, descrita como acolhedora e tradicional.“Das festas aos apps, é sempre a mesma galera. Um grupo fechado, mas muito unido, como uma irmandade mesmo”.