por Anderson Oliveira
Quinta-feira, 13 de Agosto de 2020
Em algum momento no futuro, o Brasil está em guerra.
– BOTO para TUPY.
O rádio estava sobre uma pedra. O soldado Rezende se levantou e foi lentamente em direção ao equipamento.
– BOTO para TUPY, responda – chiou o rádio novamente. Rezende apertou um botão e transmitiu.
– BOTO aqui TUPY – autentique ECHO ALFA.
– TUPY aqui BOTO – BRAVO CHARLIE LIMA ECHO ECHO – apago.
– Prossiga BOTO, câmbio – respondeu Rezende.
Coçou a orelha aguardando as instruções do comando. Esticou um braço e se espreguiçou.
– Deslocamento para posição Colina 4-5, coordenadas: NOVEMBER-OSCAR-4-5. Montar guarda e aguardar instruções. Reportar a cada 2 horas. Câmbio.
Rezende praguejou e soltou um “caralho” antes de apertar o comunicador. Pelas regras do Exército era proibido qualquer tipo de palavrão nas comunicações oficiais.
Abriu o mapa enquanto conferia a localização da colina 4-5.
– TUPY – RECEBIDO – apago.
– Bom serviço. Câmbio e desligo.
Ele voltou devagar até o local onde estavam cochilando. Era fim de tarde, seu companheiro de ronda estava se mexendo na grama baixa, a cabeça apoiada na mochila e abraçado ao rifle. Apertava a virilha.
– Os filhos da puta querem que a gente avance o reconhecimento – falou Rezende enrolando os cabos do rádio para guardá-lo na mochila.
– Pra onde, agora?
– Colina 4-5 ao norte.
– Aquela região não tá segura, cara – falou Braga e continuava com a mão entre as pernas.
– Eu sei, mas o comando quer que a gente desloque pra lá. Tá com coceira no pau?
O soldado Braga se sentou, olhou para a parte da frente do uniforme e viu uma pequena mancha molhada.
– Caralho, o rádio me acordou bem na hora que eu tava gozando.
– Que? – falou Rezende rindo.
– Eu tava sonhando, porra.
– E você gozou no sonho? – perguntou Rezende dando uma gargalhada.
Braga o ignorou e tentou se limpar, mas percebeu que não ia conseguir. Levantou-se ainda um pouco bêbado de sono, desafivelou o coldre e abriu a braguilha. A cueca estava toda melada, o pênis ainda duro marcava um grande volume.
– Caralho!
– Foi boa a foda, hein! Quem você tava comendo no sonho? – perguntou Rezende parando o que estava fazendo e olhou para a mancha molhada e o volume na cueca do parceiro de ronda.
Braga abaixou a cueca com as pontas dos dedos, não querendo se sujar com a ejaculação que tivera durante o sonho e seu pênis ainda meio duro saltou todo lambuzado. O líquido gosmento ainda estava saindo lentamente e pingando no mato aos seus pés. Um pouco caiu sobre suas botas.
– Mano, faz quanto tempo que você não bate punheta? – perguntou Rezende.
– Faz tempo, hein – respondeu ele, virou para o colega e mostrou a sujeira. – Limpa aqui pra mim, já que tu tá aí olhando pro meu pau.
– Vai se fuder, Braga – respondeu ele e continou guardando o equipamento de comunicação.
– Vou ter que tirar a cueca... Caralho!
Braga se sentou novamente e começou a se despir. Tirou as botas, depois as calças, a camiseta verde oliva e finalmente a cueca. Estava completamente nu, segurando a cueca toda melada. Chegou pelas costas do colega que estava abaixado arrumando o equipamento e a esfregou bem na cara do amigo, que se virou furioso.
– Caralho, seu filho da puta, você tá fudido comigo, seu viado! – falou Rezende se virando, mas o outro já estava correndo pelado na direção do riacho. Ele corria rindo, a bunda muito branca reluzindo ao sol do fim da tarde. As tatuagens nos dois braços e nas costas se destacavam na luz laranja-avermelhada.
Rezende ficou olhando o parceiro correr e pular no rio. Segurava a cueca melada nas mãos. Virou-a de um lado e de outro, estava completamente ensopada na parte da frente. Aproximou-a do rosto e a cheirou. Pensou em atirá-la bem longe em direção ao matagal, mas desistiu. Olhou na direção do rio para ver se o amigo estava olhando, dobrou a cueca com cuidado e a colocou no bolso da calça camuflada.
Braga voltou do rio completamente nu. Era normal os dois ficarem pelados um na frente do outro, não havia pudor no Exército.
– Por que tu não toma banho também? Tá um calor da peste!
– A gente não tem tempo, Braga. Já vai escurecer e a gente tem que montar acampamento antes de chegar no pé da colina. Amanhã cedo a gente precisa dominar o ponto mais alto e se a missão der certo, vamos ganhar cinco dias de folga.
O soldado Braga olhou em volta procurando a cueca.
– Cadê minha cueca?
– Que cueca?
– A que eu gozei.
– Joguei fora.
– Filho de uma rapariga, eu não tenho outra!
Ele riu e continuou se vestindo, dessa vez sem cueca. Vestiu a calça, meias, botas, camiseta e gandola. Por fim colocou o capacete, cinturação, coldre e estavam prontos para seguir.
Eles estavam há quatro dias nesta perigosa missão de reconhecimento no meio da selva. Não existia front nesta guerra, o contato com o inimigo era constante e as rondas muito estressantes porque eles podiam a qualquer momento ser abatidos por um sniper escondido na mata. A missão deles era atualizar o mapa com possíveis posições inimigas, construções, armadilhas ou qualquer sinal de domínio estrangeiro. Se encontrassem uma cabana abandonada, tinham que anotar a posição no mapa. Os dados seriam depois utilizados pela inteligência. Se é que existia alguma coisa próxima de “inteligente” naquela guerra.
Os dois eram velhos amigos, serviram juntos o Exército e depois que a guerra estourou, se alistaram como voluntários. No entanto, a guerra havia se mostrado muito diferente do que eles tinham imaginado. Queriam o confronto, queriam as batalhas. Aquilo de ficar dias na mata sem dar nenhum tiro não era a aventura que eles tanto esperavam. Queriam sentir o gosto da adrenalina na boca. Eram jovens e cheios de energia. Eram soldados e foram treinados para o combate, não esse confronto de guerrilha.
Perderam muitos amigos mortos por minas terrestres, vítimas de armadilhas ou incapacitados e mutilados. Estes receberiam uma medalha de honra pelo serviço à pátria. Mas que honra havia naquilo? Depois de meses numa batalha sem propósito, tudo o que eles queriam agora era voltar pra casa.
Seguiram pelo rio com água até o joelho e aproveitaram para encher os cantis.
– To com saudade da minha mãinha lá no Pernambuco – disse Braga.
– Cara, eu tenho saudade de todo mundo, mas não da minha comunidade. Saí da favela pra tentar mudar de vida e ser alguém.
– Tu acha que isso aqui vai mudar tua vida?
– Acho que não. Ninguém tá preocupado aqui se você vive ou morre. De quem é esta porra de guerra, afinal? Já nem sei por que ou por quem to lutando. Se eu morrer, minha mãe vai receber uma pensão e talvez fique feliz. A vida dela é miserável. Aí sim talvez a minha vida tenha valido a pena.
– Tu vai tirar uns dias em novembro também, né?
– 15 dias
– Se quiser pode ir comigo pro sertão. É cidade pequena, mas tu vai ser bem recebido. Vou te levar pra conhecer a Chapada do Araripe.
– Parece uma boa idéia.
Caminharam um na frente do outro por uma trilha paralela ao rio com muito cuidado, procurando por armadilhas. Quando o sol estava se pondo, Rezende olhou o relógio.
– Vamos acampar aqui. Antes do dia clarear saímos em patrulha de novo.
Braga concordou, deixou a mochila num canto, abriu a calça atrás de uma árvore e começou a mijar. Enquanto isso Rezende vasculhava o perímetro com o binóculo.
– Tu já gozou sonhando, Rezende? – perguntou Braga, a cabeça virada pra cima, os olhos fechados enquanto se aliviava.
– Já – respondeu e quando se virou o amigo estava balançando o pau. Ficou olhando para o pênis do amigo e falou: – Quer uma cueca emprestada? Eu tenho uma aqui.
– Depois você me dá – respondeu enquando fechava o zíper. – Eu sempre acordo quando tô gozando. Nunca gozei e continuei o sonho. Quando vou gozar, acordo. Fico puto. E você?
– Eu não acordo não. Eu gozo e o sonho continua. Às vezes até gozo de novo. Já acordei no alojamento várias vezes todo melado.
– Será que isso só acontece quando a gente fica muito tempo sem gozar?
Quando Braga falava putaria ele tinha um jeito de semicerrar os olhos, sorrir só com um canto da boca e morder levemente o canto do lábio inferior. Era como se ele ao mesmo tempo estivesse vendo um filme. Ele às vezes falava e se excitava, então segurava o pau por cima da calça e ficava apertando.
– Acho que sim.
– Hoje à tarde eu tava sonhando que uma mina tava me chupando. Levar uma mamada é bom demais, né?
– Bora montar o acampamento? – respondeu Rezende enquanto tirava o rádio da mochila. Precisava informar a posição para o centro de comando. – Deixa a putaria pra depois.
***
Era uma noite de lua cheia, perfeita para fazer incursões na mata. Eles só iriam dormir algumas horas e seguir para o objetivo final. Não podiam fazer uma fogueira, mas nem era necessário porque a noite estava bem clara. Tiveram que comer a ração fria, beber água e esperar. Aquela guerra era 99% do tempo esperar.
Os dois estavam deitados, exaustos da caminhada de cinco quilômetros pela mata. Rezende olhava as estrelas. Estava sem sono. Lembrou-se da cueca melada do amigo.
Virou o rosto para ver se o parceiro dormia. O peito dele subia e descia lentamente, o capacete cobrindo o rosto. Rezende virou-se para o lado oposto e retirou a cueca que estava guardada no bolso da calça.
A cueca um dia tinha sido branca e estava rasgada em alguns lugares. Ainda estava úmida da ejaculação do amigo. Aproximou-a do nariz e cheirou. O odor entrou pelas suas narinas e pareceu entorpecê-lo como uma droga. Seu coração acelerou e seu pênis começou a endurecer. Ele gostava daquilo. Eram os feromônios de outro macho excitando-o.
Apertou o pau por cima da calça, que já estava muito duro. Fechou os olhos, virou-se de barriga pra cima e continuou cheirando e se excitando cada vez mais.
A guerra o havia transformado de moleque em homem. Foi no Exército que ele descobriu a importância de cuidarem-se uns dos outros. A sua vida dependia da vida do parceiro. Eram todos irmãos. Esta proteção mútua, este afeto que depende de vida ou morte, às vezes se confundia.
Nos últimos meses havia desenvolvido uma proximidade muito grande com o soldado Braga. Nutriam um sentimento de proteção mútua. Isso tudo cresceu depois da última batalha em que eles quase morreram. Os dois ficaram entrincheirados e mantendo seguro um perímetro até que o reforço chegou. Era a guerra que fazia isso. O medo de morrer ou perder o parceiro os unia como irmãos.
– Tá gostoso? – a voz do Braga o despertou do devaneio.
Rezende arregalou os olhos e olhou para o lado. O amigo estava deitado de lado, olhando pra ele. Tinha um sorriso no rosto. Rezende tentou esconder a cueca roubada, mas era tarde.
– Caralho! Que susto da porra!
– Tem tesão em cheirar minha gala?
Rezende ficou calado, olhando o céu. Não sabia o que responder. Não adiantava tentar se justificar.
– Por que não cheira aqui, ó? – falou Braga e pegou no pau por cima da calça. Tinha aquele sorriso malicioso. Olhou-o nos olhos, depois olhou para onde estava apertando. – Eu sei que tu gosta.
Os dois estavam muito próximos, deitados lado a lado. Braga esticou a mão, segurou a mão do companheiro e o fez encostar onde um grande volume se formava.
– Vou fechar os olhos e fingir que to dormindo. Faz de conta que to sonhando – falou sorrindo.
E foi o que ele fez. Deitou-se de barriga para cima, colocou as duas mãos debaixo da cabeça, baixou o capacete para cobrir o rosto e ficou imóvel.
Rezende se aproximou e tocou o volume por cima da farda. Apertou e Braga fazia o pau pulsar de propósito. Abriu o zíper e conseguiu ver na luz fraca do luar o cacete do colega que estava duríssimo.
Era grande e grosso. Rezende se aproximou e o enfiou na boca. Abaixou a própria calça e começou a se tocar, o pau também duríssimo.
O cheiro de suor do colega o deixou muito excitado. Tirou o pau da boca, afastou a camiseta do Braga pra cima e lambeu seu abdômen musculoso enquanto batia punheta pra ele com uma mão. O amigo gemia baixinho.
– Caralho, tu chupa muito gostoso, mano... Delícia...
Rezende voltou a chupar e Braga não aguentou muito tempo. Gozou na boca dele, enchendo-a de porra. Ele engoliu a maior parte e depois começou a lamber o que tinha escorrido, lambuzando-se de propósito para sentir aquele cheiro de homem. Isso o excitou ainda mais e ele gozou batendo punheta.
O pau do companheiro de ronda amolecia enquanto Rezende lambia cada gota e brincava com o pênis dele. Braga parecia estar dormindo e depois de um tempo se levantou.
– Vou reportar pro comando – falou levantando-se e fechando a braguilha da calça.
Caminhou até o rádio e comunicou a posição e o status: “sem novidade”. Quando voltou, Rezende já estava deitado e parecia dormir.
***
Antes de o sol nascer, levantaram acampamento e encontraram o rio novamente. Desta vez seguiram pelo leito do rio, que nesta parte era raso e a água batia no máximo no joelho. Era mais seguro para não deixarem rastros e também porque era mais fácil avançar.
Braga ia na frente, o rifle em posição sul. A mata ao redor era fechada e os sons e pios eram sinistros. Às vezes ele parava, erguia a mão direita com o punho fechado, sinal para parar. Ouvia atentamente e depois continuavam.
Quando o sol nasceu, encontraram uma margem razoavelmente aberta e pararam para descansar. Braga virou-se de costas, tirou a gandola e a camiseta, e Rezende fez a inspeção por sanguessugas. Havia duas bem no meio das suas costas musculosas e estavam gordas. Rezende retirou um isqueiro do bolso e o aproximou aceso. Os vermes se contorceram e caíram no chão. Depois foi a vez dele. Virou-se, Braga levantou a sua blusa e o inspecionou. Enquanto isso Rezende se abaixou para verificar as pernas e Braga enfiou a mão nas suas calças.
– Filho da puta! – falou Rezende rindo.
– Não tem nada nas tuas costas, tava só vendo se tinha no furico.
– Vê se tem aqui no meu saco.
– Vira aí que eu vejo – disse rindo e pegou nas bolas do parceiro, que se protegeu a tempo.
Ficaram em silêncio, sentaram-se no tronco de uma árvore que estava caída e comeram ração seca. Depois acenderam um cigarro. Rezende perguntou:
– Algum cara já tinha te chupado antes?
– Aconteceu uma vez só. Eu tinha ficado duas semanas direto no quartel e tirei folga no fim de semana. Perto do quartel passava a rodovia e a maioria dos soldados pegava carona pra ir pra casa.
– Eu também fazia isso.
– Sim, a maioria era de outras cidades. Eu tava esperando fazia uns quinze minutos quando parou um Corolla. O cara era legal, tava sozinho e disse que ia me deixar quase na minha cidade. Já tava ótimo porque depois era só pegar um circular e eu já tava em casa.
– Hum, e aí?
– Aí ficamos conversando um tempo, mas eu tava muito cansado. Ele disse que se eu quisesse eu podia deitar o banco. Acho que capotei na mesma hora. Apaguei.
Ele pegou o cantil de água, deu um gole. O colega ficou esperando que ele continuasse.
– Acordei com a mão do cara mexendo no meu pau.
– Caralho! O cara tirou teu pau pra fora?
– Não. Ele tava só mexendo por cima da calça. Eu meio que acordei, me mexi, mas deixei ele continuar. Eu tava muito cansado. O problema é que meu pau começou a ficar duro. Meu pau fica duro fácil, fácil... Olha só como já tá! – e pegou no volume que se formava na frente do uniforme.
Rezende deu risada. Braga continou:
– Aí eu falei: “Quer chupar?”. Eu tava com um puta tesão, vários dias sem bater uma. Pensei, “que se foda”.
– E aí?
– Aí ele encostou o carro num lugar meio deserto da rodovia e começou a mamar.
– E você gostou?
– Ah... gostei... Ele chupava feito um bezerro. Gozei na boca dele e depois ele acabou me levando até quase a porta de casa. Não quis que ele parasse na frente da minha casa, sei lá... Na época eu morava com minha tia, depois que vim do Pernambuco.
– Caralho...
– O cara disse que curtia demais homem fardado e eu dei risada.
Rezende pensou um pouco, deu um trago no cigarro. Soltou uma baforada e perguntou:
– Você acha que é gay por isso?
– Eu? Gay? – e riu. – Cara, não gosto dessa palavra. Só deixei o cara me chupar. Não preciso ser chamado disso ou daquilo. Apenas tive vontade e fiz. Continuo sendo o soldado Braga, que tá lutando nessa porra de guerra sem sentido no meio da floresta.
– Falou tudo agora...
– E tu?
– Quando eu era moleque eu aprontava com meus primos. A gente fazia troca-troca, batia punheta juntos. De noite a gente corria pra uma viela escura, encostava todo mundo na parede e ficava se masturbando pra ver quem gozava mais. Às vezes os moleques mandavam eu pegar no piru deles.
– Tu dava pra eles também?
– Eles tentavam me comer, mas eu trancava e eles não conseguiam. Eu tinha medo pra caralho de doer.
– E depois que tu cresceu?
– Depois nunca mais.
– Tu chupou meu pau gostoso pra caralho, achei que tu já tinha experiência nisso.
– Vai se fuder, Braga – falou Rezende se levantando. – Bora continuar porque senão a gente não vai chegar lá em cima com a luz do dia.
Andaram nem dez metros e ouviram o som de um tiro.
***
Os dois se jogaram no chão e Braga soltou um gemido de dor.
– Me acertaram, porra! – disse gritando entre os dentes cerrados, as duas mãos apertando a coxa direita.
Mais tiros foram ouvidos e Rezende tinha certeza pelo som que era só uma arma disparando, provavelmente um sniper.
Mantiveram-se deitados e o soldado Rezende disparou diversas vezes na direção de onde o ataque tinha vindo. Não conseguia ver nada, era tudo um mundo de diferentes tons de verde. Apenas continuou atirando naquela direção.
– Vamos sair daqui – disse Rezende depois que a troca de tiros cessou por um momento. – Ele com certeza vai vir atrás da gente.
– Minha perna... – Braga tinha o rosto contorcido de dor. – Caralho, ele fudeu minha perna, porra! Pega esse filho da puta, Rezende!
– Cara, eu não sei se ele tá sozinho, vamos cair fora daqui.
Os dois se arrastaram na direção sul, mais ou menos voltando por onde tinham vindo. Encontraram o rio e foram se arrastando, só as cabeças para fora d’água. Ouviram vozes que falavam uma língua que eles não entendiam. Eles se esconderam numa cavidade da margem, debaixo de uma pedra e aguardaram. As vozes eram nervosas e estavam logo acima de suas cabeças.
Rezende fechou os olhos e pensou na sua casa. Era um barraco de favela, mas naquele momento, tudo o que ele queria era estar no seu quarto sentindo o cheiro do feijão e o barulho do CHIC-CHIC-CHIC da panela de pressão. A voz da mãe acompanhando uma música de Roberto Carlos no rádio. Sua mãe era uma eterna romântica.
Olhou para o companheiro mergulhado na água fria do rio e seu rosto estava pálido, os olhos apertados de dor. Ele ia tirá-los dali a salvo, ele tinha que salvar a vida dos dois.
Aguardaram pelo que pareceu ser mais de uma hora, até que o som de vozes inimigas diminuiu e depois silenciou.
O soldado Rezende levantou-se com cuidado e examiou o perímetro. Estava seguro. Voltou até onde o companheiro estava e o encontrou semi-consciente.
– Temos que andar mais um pouco, Braga, você consegue?
O companheiro só conseguiu fazer um movimento com a cabeça e os dois continuaram pelo leito do rio, mas Braga estava muito fraco, então Rezende colocou um de seus braços ao redor dos ombros e o carregou, segurando-o pela cintura e o conduzindo rio abaixo.
Caminharam por cerca de meia hora até que encontraram uma clareira ao lado da margem direita.
– Braga, você consegue? Vamos sair do rio e entrar no mato agora.
– Vou tentar, minha perna tá doendo muito, mano...
Rezende teve que ajudar o companheiro a subir a margem e o deitou encostado a uma árvore.
– Deixa eu dar uma olhada nisso – falou Rezende.
Ele pegou o canivete e fez um rasgo no alto da calça onde um buraco tinha sido feito e estava encharcado de sangue. Rasgou o tecido da farda e puxou-o com as duas mãos.
O que ele viu o assustou, mas tentou manter a calma. Braga o olhava atentamente, tentando ler no rosto do amigo o quanto tinha sido grave.
– Vou ter que fazer um torniquete.
Tinha sido um belo de um estrago e o companheiro tinha perdido muito sangue. Ele rasgou um pedaço de tecido da própria calça do Braga e com ele fez um torniquete no alto da coxa.
Em seguida pegou o rádio.
– TUPY aqui BOTO, câmbio – falou ele ao rádio e aguardou.
– BOTO para TUPY, prossiga.
– Aqui soldado Rezende, fizemos contato com o inimigo. Soldado ferido, solicito resgate urgente – disse Rezende quebrando todo o protocolo de comunicação. – Repito, contato com o inimigo em... – conferiu o mapa e soletrou a localização – SIERRA-TANGO-DELTA-UNO-NOVE-ZERO.
O rádio chiou e a voz do outro lado perguntou:
– Alguma baixa? Câmbio.
– Soldado Braga ferido. Tiro de sniper na coxa, solicito resgate urgente. Câmbio.
Ele estava quase gritando no rádio.
– Enviar identificação do soldado ferido. Câmbio.
– Caralho, pra que você quer a identificação do soldado, seu filho da puta, manda uma porra de um helicóptero agora – ele agora estava gritando de verdade e quando olhou para o companheiro, seu desespero aumentou ainda mais. Ele estava desacordado.
– OK, ok, mantenha a calma. Vocês conseguem chegar à zona de pouso CHARLIE-SEIS? Cambio.
Rezende olhou o mapa. A zona de pouso C-6 era a um quilômetro da posição atual deles.
– Caralho, é o local mais próximo? O Braga tá ficando inconsciente, porra, eu acho que ele desmaiou! Cambio.
– É a zona de pouso mais próxima para o resgate, soldado. Em uma hora o águia estará em CHARLIE-SEIS e vocês precisam estar lá. Essa área não é segura, não podemos procurar por vocês. Cambio e desligo.
O soldado Rezende ficou olhando para o equipamento de comunicação. Se ele quisesse chegar ao ponto de resgate a tempo, teriam que partir imediatamente. Andar pela floresta já era complicado quando estavam em perfeitas condições. Tendo que carregar um soldado ferido seria ainda mais difícil.
Agachou-se até onde o amigo estava sentado e deu tapas de leve em seu rosto. Braga abriu os olhos.
– Braga, vamos ter que seguir por um quilômetro, consegue se segurar em mim?
O companheiro fez que sim com a cabeça e levantou-se ajudado pelo parceiro. Eles seguiram com muita dificuldade e Rezende só parava de tempos em tempos para se localizar pelo mapa.
Quando estavam quase chegando à clareira denominada no mapa por “Área de Pouso C-6”, Braga perde as forças e desmorona.
Rezende segura a cabeça do amigo no colo e dá tapas em seu rosto, tentando reanimá-lo.
– Acorda, porra! A gente tá quase chegando, Braga, acorda, cara!
O desespero ao ver o rosto pálido do amigo fez com que começasse a chorar. Tirou o capacete do amigo, segurou sua cabeça com as duas mãos, apoiou-a no colo e alisou seu cabelo.
– Cara, aguenta mais um pouco, não vai agora, por favor. Aguenta, cara!
Chorou e as lágrimas desceram pelo seu rosto sujo de poeira e caíram na testa do amigo. Braga acordou e olhou para Rezende. Eram os mesmos olhos brincalhões que adoravam contar piada e fazer todos no alojamento rirem.
– A gente já chegou? – falou ele, a voz muito fraca.
Rezende sorriu, um sorriso de genuína felicidade, mas as lágrimas continuaram rolando. A gente já tá quase lá, o resgate tá chegando.
– Tu tá cuidando de mim, né, parceiro... – disse Braga e deu um sorriso.
Rezende se comoveu, alisou o rosto do amigo que poderia deixá-lo a qualquer momento. Pensou nos perigos que já passaram juntos e conseguiram sobreviver. Ainda tinham muitos sonhos, muita coisa para viver.
Rezende continuava segurando a cabeça do amigo, inclinou o corpo para baixo e o beijou. Foi o beijo mais apaixonado que ele já tinha dado em toda a sua vida. Era o beijo antes do apocalipse, a declaração de amor final.
Os lábios febris do companheiro estavam inertes a princípio. Depois ele foi correspondido. Os dois se beijaram. Rezende segurou o rosto do companheiro como se o beijo fosse supri-lo com oxigênio e soprar-lhe vida.
Depois de um tempo, se olharam.
– Não deixa eu morrer – falou Braga e a voz tremeu com um soluço. As lágrimas brotaram de seus olhos.
– Eu não vou deixar você morrer. Eu prometo.
No mesmo instante, ouviram o som de um helicóptero que se aproximava. A zona de pouso estava a poucos metros, mas Braga não ia conseguir mais se movimentar. Rezende o segurou debaixo das axilas, puxou-o pelo espaço que faltava e finalmente a clareira se abriu diante deles. O helicóptero pousou e o vento agitou seus cabelos enquanto se arrastavam em direção ao socorro.
***
A guerra continuou seu ritmo sem propósito e o número de baixas aumentou. A rotina era quase sempre a mesma. Missão de reconhecimento. Batalha de guerrilha e mais baixas. Fincavam uma bandeira do Brasil no alto de uma colina e a mantinham por alguns dias. Depois que os soldados se retiravam, a colina era retomada pelo inimigo.
Três dias depois do resgate em CHARLIE-6, Rezende caminhou apressado pelo acampamento do centro de comando localizado a poucos quilômetros da fronteira e entrou no barracão-hospital. Diversos leitos estavam alinhados de cada lado e ele caminhou pelo corredor principal.
– Acorda, moleque! – falou quando parou aos pés da maca onde estava o soldado Braga.
Braga estava coberto com um lençol até a cintura, sem camiseta por causa do calor.
– Isso aqui não é a colônia de férias que eu esperava – falou e deu um sorriso.
– Tá bem melhor, pelo jeito, né?
– Tô sim. Se eu não tivesse sido resgatado rápido, hoje não taria aqui. O médico disse que a bala pegou uma artéria e perdi muito sangue. Por que demorou tanto pra vir me visitar?
– Fizemos uma incursão nesses três dias e dominamos uma área no pé da Cordilheira. As coisas estão melhorando, meu velho, os filhos da puta sofreram muitas baixas. Matei pelo menos uns dez pra vingar o que fizeram contigo.
– Valeu. Eu nem tive tempo de te agradecer. Tu é um irmãozão, meu chapa. Quando alguém salva tua vida, tu deve pra ele pra sempre. Enquanto viver, vou lembrar de ti. Só tô aqui por tua causa.
– Que isso, – falou Rezende se aproximando e tomou a mão do companheiro – você teria feito a mesma coisa por mim.
Braga aproveitou que segurava a mão do colega e a levou para o meio das pernas. Rezende tirou a mão rápido e olhou em volta.
– Filho da puta – xingou e os dois riram.
– O que foi aquilo que aconteceu lá?
– Aquilo o que?
– Tu sabe... Antes de o helicóptero pousar.
– Você tava consciente? Achei que nem tava sabendo o que acontecia.
Braga deu um sorriso e depois de um tempo disse:
– Não sei o que essa guerra tá fazendo com a gente, mas... Queria te dizer que eu gostei.
Rezende ficou sem graça, olhou em volta de novo, mas ninguém estava prestando atenção. Três médicos e quatro enfermeiros corriam de um lado para o outro. Havia muitos casos graves ali, alguns soldados estavam com membros amputados, outros se recuperando.
– Trouxe um negócio pra você – falou Rezende e enfiou a mão no bolso da calça.
– Vai me dar uma cueca nova?
Rezende riu e mostrou um saquinho pequeno de papel pardo. Entregou para o amigo.
– Foi difícil conseguir.
Braga rasgou o papel e tirou uma barra de rapadura de dentro. Aquilo era o equivalente a ganhar um banquete. Riu e falou:
– Caralho, como tu conseguiu? – falou já dando uma mordida e fechando os olhos. – Cara, isso tem gosto do meu sertão. Tu é o cara!
Rezende ficou em pé observando o amigo. A tatuagem no braço direito era de uma jaguatirica. No braço esquerdo tinha uma carpa. Talvez aquela tenha sido a primeira vez que o via com outros olhos. Braga percebeu que ele olhava as tatuagens e disse:
– Vou tatuar teu nome aqui – e apontou para o peito. – Bem onde tá o coração.
– Isso não vai parecer meio gay?
– Eu te devo minha vida.
– Você teria feito o mesmo, meu brother.
Braga sorriu e os dois conversaram sobre a guerra. O exército brasileiro estava ganhando espaço em direção às montanhas. O número de baixas dos dois lados era bastante elevado.
– Tenho que ir, vamos sair pra mais uma missão hoje à noite – disse e foi saindo. – Faz essa barba, você tá parecendo um mendigo!
Braga riu e acenou com a mão. A boca continuava dissolvendo um pedaço de rapadura.
***
Um mês depois, uma nova operação estava sendo preparada para avançarem o domínio até a Cordilheira. Estava chovendo muito e diversos caminhões estavam sendo carregados com soldados de dois batalhões. Seria a maior campanha desde o início da guerra.
Rezende seguia em fila para entrar no caminhão quando avistou Braga ao longe. Foi uma surpresa o amigo já ter sido chamado tão pouco tempo depois da recuperação. Saiu da fila e foi correndo até ele.
– E aí, Braga! Te colocaram nessa missão, cara?
– Fala, meu brother! – os dois se abraçaram com muita força e Rezende quase foi sufocado. – Eu que me ofereci como voluntário, Rezende. Num guento ficar parado, cara. Tinham me colocado num trampo lá na administração, mas meu negócio é no campo de batalha. Quero matar uns filhos da puta dessa vez.
Rezende riu e o sargento vendo os dois parados, mandou dispersar e cada um ir pro seu caminhão.
Depois de oito horas mata adentro pela estrada de terra que tinha sido aberta durante a guerra no meio da floresta, chegaram no início da noite ao acampamento de onde os ataques iriam partir. Nos primeiros dias eles teriam que reforçar a segurança do perímetro e cavar trincheiras. Era a parte da guerra com que nenhum soldado sonhava.
Por volta das dez horas da noite chovia muito e Rezende estava tirando água da sua trincheira com um balde. As instruções para aquela noite eram apenas vigiar. Apesar da chuva, fazia muito calor e ele não usava camiseta. A água chegava à metade da canela e o coturno estava ensopado de água.
Braga apareceu segurando o rifle, mochila e equipamento de rádio.
– Vou montar guarda contigo hoje, meu chapa!
Quando Rezende o viu, abriu um sorriso, largou o balde e correu em direção ao amigo. Levantou a mão para cumprimentar, mas Braga o puxou e deu um abraço apertado.
– Achei que você ia ficar no outro pelotão.
– Pedi transferência pra cá – falou e olhou em volta da trincheira. Uma lanterna estava apoiada na parede enlameada e ele viu o local todo alagado. – Trouxe uma lona pra gente cobrir aqui e passar a noite.
Os dois ficaram um tempo parados em pé, um olhando para o outro, a chuva torrencial fazendo os cabelos escorrerem pelas testas. Sorriram. Braga avançou e deu outro abraço muito apertado.
***
A chuva tinha diminuído, eles colocaram a lona preta cobrindo uma parte da trincheira e fazendo uma espécie de barraca. Embaixo montaram o fogareiro a gás e tinham terminado de esquentar a ração. Braga tinha trazido uns pedaços de pão.
Os dois estavam sem camiseta, apenas a calça e o coturno. Estavam exaustos de tanto tirar água com o balde e preparar tudo para passarem a noite. Pelo rádio eles comunicaram a situação: sem novidade.
As trincheiras eram um labirinto de camundongo. Havia pontos de vigia e sentinelas espalhados por mais de dois quilômetros e geralmente eram distribuídos de dois em dois sentinelas em pontos estratégicos.
Eles só conseguiam ver um ao outro graças à luz do fogareiro e da lanterna que tinha sido pendurada na beirada da trincheira. Os rifles estavam arrumados de forma que poderiam ser rapidamente usados em caso de um ataque inimigo.
– Eles tiraram a bala da sua perna?
– Sim. Cara, só ficou uma cicatriz. To novo em folha.
Os dois fumavam. A guerra criava os piores tipos de vício. O cigarro era o mais comum, mas muitos começaram a beber, outros a cheirar cocaína. A maconha era a droga mais usada. Eles por enquanto só tinham caído na tentação do cigarro e às vezes uma pinga.
Braga deu uma fuçada na mochila que estava sobre uma pedra, acima do nível da água que acumulava na trincheira e tirou um pequeno cantil de bebida, com uma tampa rosqueável em cima.
– Olha o que eu trouxe pra gente – e exibiu para o amigo, girando a tampa e dando um gole em seguida. Fechou os olhos e soltou um “ahhhhhh”. Estendeu para o companheiro de vigia.
– Me dá isso aqui – falou tomando da mão dele e dando um longo gole. Em alguns segundos o álcool subiu à cabeça.
Conversaram sobre a rotina da guerra e Braga contou o que andou fazendo desde que saiu do hospital. Tinha se especializado em comunicações.
– Você vai querer continuar? – perguntou Rezende referindo-se a seguir carreira e de repente assumir um posto de comando durante a guerra.
– Cara... já tive esse sonho, mas hoje só quero voltar pro meu sertão. Isso aqui não vai me levar a lugar nenhum. Quando a gente é moleque tem aquele sonho da farda, de ser um herói. Quando tu tá aqui, aí tu vê que não é nada daquilo. Isso não é vida não.
– E o que você quer fazer lá na tua terra?
– Quero só ter uma casinha, uma roça, cuidar do meu gado. To querendo cuidar de porco ou criação.
– O que é criação?
– Bode ou carneiro.
Rezende passou o cantil para Braga. A chuva tinha parado, a luz azulada do fogareiro a gás continuava queimando.
– Quando você vai me levar lá um dia?
– Bora cumprir nosso tempo aqui e s’imbora. Se tu for, não vai querer nunca mais voltar pra São Paulo.
– Bom, pra São Paulo é que eu não volto mesmo.
Os dois ficaram calados. O ar estava úmido e abafado. Estavam deitados lado a lado na lona, as cabeças apoiadas nas mochilas. Passavam o cantil de cachaça de um para o outro e a noite foi ficando mais densa. Ouviam os sons de sapos e corujas.
Quando já era uma da manhã, Braga fez mais um reporte pelo rádio: sem novidade. Tinha que reportar a cada hora cheia. Quando Rezende devolveu o cantil vazio, pois já haviam tomado toda a pinga, notou que no peito do colega havia uma tatuagem nova, bem discreta, no lado esquerdo, pouco acima do mamilo.
– Você fez mesmo a tatuagem?
Braga alisou o local e disse:
– Só agora que tu viu? Achei que não ia falar nada.
Rezende se aproximou para ver mais de perto. A luz era fraca, mas ele conseguiu ler “SD REZENDE” em letra cursiva. Estendeu a mão e tocou a tatuagem com o dedo indicador, sentindo o relevo do nome recém tatuado. E o calor da pele.
Ficaram em silêncio. Rezende estava levemente embriagado. Abriu a mão e alisou o peito do companheiro. Estava molhado, parte suor, parte chuva. Eles se olharam e continuaram mudos. Rezende continuou alisando o peitoral musculoso e desceu até o abdômen. Observou o corpo definido do homem que ele salvara.
Braga estendeu a mão e tocou o rosto do irmão de farda. Seus lábios se aproximaram e eles começaram a se beijar.
Primeiro tocaram de leve os lábios, mas depois usaram a língua e depois se beijaram com o corpo inteiro e com a alma. Entrelaçaram-se, rolaram um por cima do outro, a respiração ofegante. Eles sabiam que não seriam incomodados desde que continuassem a reportar “sem novidade” pelo rádio a cada hora. Eram só os dois no meio da selva amazônica em uma trincheira enlameada.
Eles exploraram o corpo um do outro. Apalparam os músculos, lamberam a carne, sugaram os líquidos. Braga era mais dominador e Rezende gostava daquilo. Estavam conhecendo o corpo um do outro e Rezende queria ser penetrado.
Tiraram coturno, calça, cueca e ficaram completamente nus. Por um momento contemplaram o corpo um do outro sob a luz fraca e tremeluzente.
Braga nunca tinha transado com outro homem, mas não foi difícil descobrir como fazer. Com as mãos e com a boca explorou o corpo musculoso do parceiro. Era algo que ele nunca tinha sonhado fazer e tinha certeza que nunca faria com outra pessoa.
A atração pelo companheiro cresceu ao longo do tempo em que serviram juntos. Ele se preocupava com Rezende, queria protegê-lo e daria sua vida se fosse necessário para salvá-lo, da mesma forma como tinha sido salvo.
O mundo ao redor não existia mais, eram só os dois. Estavam sobre a lona e seus corpos se entrelaçavam. Rezende estava por baixo, as pernas levemente abertas e Braga havia se encaixado no espaço entre elas. Forçava devagar para penetrá-lo. Eles se olhavam e Braga tinha aquele sorriso safado que era tão sedutor. Seus braços estavam apoiados de cada lado, as tatuagens molhadas de suor brilhavam.
Braga forçou o quadril e Rezende fechou os olhos e relaxou. Não era um sexo violento, estavam aproveitando cada momento e dando prazer um ao outro. Quando foi penetrado, nada mais tinha importância. Os dois agora eram um só. Eles se beijaram e se movimentaram como se estivessem embalados por alguma canção com notas que eram às vezes lentas e depois rápidas. Estavam em completa sintonia.
Ficaram bastante tempo nesta posição, Braga por cima com a barriga roçando o pau do parceiro conforme fazia movimentos para dentro e para fora, para dentro e para fora. O abdômen esfregando a glande do pau de Rezende foi suficiente para fazê-lo gozar sem se tocar. Braga parou por um momento sentindo o parceiro apertar o seu pau a cada jato de gozo e ficou olhando para o rosto de Rezende. Sentiu o abdômen todo melado e continuou se movimentando um pouco mais rápido. Agora foi sua vez de gozar, inundando e possuindo. Rezende agora era seu.
Os dois permaneceram na mesma posição, Braga ainda por cima encaixado entre as pernas do outro. Encostou a cabeça no peito de Rezende e os dois ficaram um tempo assim, até que o pênis amoleceu e saiu de dentro do parceiro.
Por volta de duas da manhã, estavam exaustos e satisfeitos. Rezende estava dolorido por ter sido penetrado pela primeira vez, mas a sensação era boa. Era como ficar lembrando da noite que tiveram.
Braga teve que se levantar para informar a situação pelo rádio. Novamente “sem novidade”. Para eles tinha sido a grande novidade, é claro, ele só não podia informar ao comando o que era.
Vestiram-se, apagaram o fogo e todas as luzes e contemplaram as estrelas, ambos deitados. Fizeram muitos planos para o que viria depois da guerra. Precisariam sobreviver àquela batalha e depois iriam para casa. Rezende queria conhecer o interior de Pernambuco e quem sabe os dois teriam uma casinha e criariam gado. A guerra havia mudado suas ambições. Quando se está à beira da morte, aprendem-se novos valores. Eles agora só queriam ser felizes.
*** FIM ***
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