por Redação MundoMais
Terça-feira, 27 de Abril de 2021
O músico Varg Vikernes é uma pessoa que odeia. Ex-vocalista da conhecida banda de black metal Burzum, o norueguês nutre ódio a tudo que é diferente de si. Ele odeia o que não seja europeu e odeia ainda mais a miscigenação, a mistura dos povos.
Quando, em agosto do ano passado, ele foi ao Twitter elencar os países que mais odeia e acrescentou à lista o Brasil, chamando os brasileiros de "Untermensch" (palavra usada pelos nazistas para designar os "povos inferiores"), o gerente de projetos paulista André Honorato resolveu contra-atacar. E encheu o perfil de Varg de fotos do ex-jogador Vampeta pelado.
Ele não foi o único. Naquele dia, os brasileiros mandaram tantas fotos do ensaio de Vampeta na "G Magazine" que Varg, inundado por uma nudez não solicitada, precisou fechar seu perfil. Foi mais uma edição do protesto virtual batizado de "vampetaço".
O vampetaço é uma espécie de cancelamento. Sempre que alguma figura pública faz ou diz algo que desagrade a massa, ela pode ser vítima do vampetaço. O Twitter, com sua tolerância à nudez, é a rede social preferencial dos manifestantes.
Já aconteceu com participantes do Big Brother Brasil e com um deputado bolsonarista. Trata-se da ressignificação de um ensaio de 1999, no qual o então volante do Corinthians exibiu sua masculinidade de uma maneira que nunca havia acontecido antes.
Comentarista na "Jovem Pan" e na "Gazeta", Vampeta disse não se incomodar com o compartilhamento em massa de suas fotos como forma de protesto. Em conversa com a reportagem, ele chegou a elogiar a iniciativa.
Não me incomoda, acho da hora. Queria dar os parabéns pra quem criou isso."
A "G Magazine" causou frisson no final dos anos 90 ao contratar o volante do Corinthians, campeão brasileiro de 98 e 99, e também da seleção. Fundada em 1997 sob o nome de "Bananaloca", a "G" já havia triplicado sua tiragem ao publicar o ensaio nu do ator Matheus Carrieri.
Mas foi Vampeta quem elevou o nome da revista a todas as rodas de conversa do país. "Nudez de Vampeta sacode o futebol", estampou a "Folha de S.Paulo", anunciando a edição seguinte da revista. "Sua atitude de posar nu, inédita entre astros do futebol, rompe um tabu nesse esporte no país, marcado pela recusa de dirigentes, técnicos e dos próprios jogadores em discutir publicamente a presença de homossexuais nas equipes."
A jornalista paulista Ana Fadigas foi uma das responsáveis pelo "escândalo". Ela foi a fundadora e era editora da revista em 1999. "Estávamos passando de uma revista com nu de modelos pra uma revista com nu de famosos. Não tinha isso no mundo. E o Vampeta tinha vivido fora do país [na Holanda], tinha a cabeça mais aberta", conta a jornalista.
Ela acredita que os ensaios da "G" tiveram um aspecto "revolucionário e empoderador" porque era a primeira vez que famosos exibiam uma ereção para ser apreciada por outros homens na imprensa nacional.
"No início, a revista não mostrava ereções, só o bumbum. O ensaio do Mateus Carrieri foi o primeiro com pênis ereto. Os leitores pediam muito", conta Ana. "Com o Vampeta conseguimos a foto mais emblemática que a 'G' poderia ter. Era ele com o pinto ereto furando a rede do gol. Com essa foto a gente estourou, inclusive na Europa. A 'G' mudou por causa disso."