Netflix lança primeiro reality show de namoro gay no Japão

A partir do dia 09 de julho, a Netflix disponibilizará “The Boyfriend“, o primeiro reality show de namoro entre pessoas do mesmo sexo do Japão. O país asiático se destaca como o único dos países democráticos mais ricos do mundo a não reconhecer legalmente as uniões homoafetivas. As informações são do The New York Times.

Como funcionará o reality show

O formato de “The Boyfriend” segue o estilo do popular “Terrace House“, e contará com 10 episódios, que serão disponibilizados em 190 países ao redor do mundo. No programa, nove homens, com idades que variam entre 22 e 36 anos, compartilham uma casa de praia de luxo nos arredores de Tóquio. Durante o dia, eles gerenciam um caminhão de café e à noite, cozinham juntos, com eventuais encontros.

Além disso, os produtores reforçaram que o sexo raramente aparecerá, dando foco para as relações de amizade e autoaperfeiçoamento, que se destacam tanto quanto o romance.

O programa se propõe a apresentar um elenco muito educado e de boa aparência, incluindo membros de heranças sul-coreana, taiwanesa e multiétnica, e acompanhado por um grupo de “comentaristas joviais“.

Empenho para não reforçar estereótipos

O produtor executivo de “The Boyfriend“, Dai Ota, explicou que o objetivo do programa é “retratar relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo como eles realmente são”, sem recorrer a estereótipos. Isso foi pensado tendo em vista o conjunto de artistas abertamente gays e trans do Japão que, nas produções do país, aparecem geralmente como comediantes extravagantes, efeminados e “exagerados”. Confira abaixo os participantes do reality:

Japão não reconhece uniões homoafetivas

O show reflete sobre a aceitação social mais ampla de gays e bissexuais no Japão. Pesquisas indicam um apoio crescente às uniões homoafetivas entre o público japonês, mas a legislação ainda não reflete essa mudança de atitude. Segundo levantamento feito pelo Asahi Shimbun, realizado entre 18 e 19 de fevereiro, 72% dos participantes acreditam que as uniões homoafetivas deveriam ser legalizadas, enquanto 18% se opõem.

Apesar disso, membros conservadores do Partido Liberal Democrata que estão no poder ainda impedem as deliberações sobre o assunto. Em 1º de fevereiro, segundo texto do Asahi Shimbun, o primeiro-ministro Fumio Kishida afirmou que casamentos homossexuais legalizados são um assunto que “mudará a sociedade“.

Sem comentários políticos ou sociais abertos

Ainda segundo texto do The New York Times, embora toque em temas sociais sensíveis, o produtor Sr. Ota destacou que o programa não pretende ser um comentário político explícito, embora reconheça o impacto potencial sobre a percepção pública.

A série surge em um contexto onde ativistas LGBT+ enfrentam uma forte resistência de grupos conservadores no Japão. Dessa forma, o fundador de um grupo de defesa LGBT+ em Tóquio, Soshi Matsuoka, expressou otimismo e afirmou que a produção “mostra uma mudança na sociedade”, mas também desejava que o programa permitisse discussões mais abertas sobre orientação sexual e desafios da população LGBT+.

Em meio a debates sobre a representação LGBT+ na mídia, a Netflix assegurou que profissionais de saúde mental estão disponíveis para apoiar os participantes, um cuidado reforçado após incidentes trágicos em reality shows anteriores como “Terrace House”. “The Boyfriend” pode não ser explicitamente político, mas seus criadores esperam que ele contribua para um diálogo mais amplo sobre diversidade e aceitação no Japão.