por Redação MundoMais
Terça-feira, 31 de Dezembro de 2024
Arlei Lopes Batista, 48 anos, pastor e vice-diretor de escola, encontrou acolhimento em uma igreja evangélica inclusiva após décadas em uma denominação tradicional que considerava a homossexualidade um pecado. Em depoimento para a Folha de S. Paulo, veiculado neste sábado (28), ele conta que anteriormente atuou como palestrante em defesa da “cura gay” e liderou iniciativas voltadas para a renúncia à sexualidade.
Tentativa de renúncia da orientação sexual
A relação de Arlei com a igreja começou ainda na adolescência, quando foi acolhido por uma família pastoral após deixar a casa do pai devido à violência familiar. Aos 14 anos, ele iniciou sua formação bíblica e, com o tempo, tornou-se obreiro, presbítero e, por fim, pastor. Contudo, durante todo esse período, enfrentou conflitos internos por sua orientação sexual. “O discurso era de que era errado e tal, era pecado. Eu tinha que renunciar à homossexualidade. Fazia oração, jejum”, conta.
Mesmo casado por 22 anos e pai de três filhas adotivas, Arlei nunca deixou de se reconhecer como homossexual. “Na leitura fundamentalista [da Bíblia] que nós tínhamos, era pecado e não tinha o que fazer. Então eu tinha que matar a minha carne, levar a minha sexualidade para a cruz e não vivê-la da forma que eu nasci para viver”, continua o desabafo.
Arlei também participou ativamente do movimento Exodus Brasil, organização que promovia a “cura gay”. Ele chegou a realizar seminários, incluindo o primeiro evento sobre sexualidade da igreja liderada por Silas Malafaia. “De certa forma, o que eu fazia era mostrar a graça de Deus para meninos e meninas que queriam renunciar à sexualidade por conta da fé. Era uma mistura de psicanálise e teologia”, diz.
No entanto, começou a questionar suas crenças ao se deparar com a teologia afirmativa, que propõe uma leitura histórico-crítica da Bíblia e acolhe a população LGBT+. “Essa teologia trata a leitura bíblica de forma histórico-crítica. Quando o texto bíblico fala ‘não se deite um homem com outro’, estou olhando para ele de forma literal. A teologia afirmativa reconhece o fator histórico, considera em que época aquilo foi escrito. Se eu fizer uma leitura literal da Bíblia, então vou ser a favor da escravidão, por exemplo”, explica o pastor.
Arlei Lopes Batista destaca aceitação
A crise de fé se intensificou quando ele conheceu um homem pelo qual desenvolveu sentimentos. Isso o levou a se afastar do casamento e de sua antiga denominação. Nesse período, Arlei teve contato com igrejas inclusivas e começou a estudar a teologia afirmativa: “Entra uma nova crise. Peraí, como que uma igreja evangélica tem público gay? Tudo o que vivi não era verdade?”.
Apesar de algumas decepções no início de sua jornada por acolhimento, Arlei encontrou uma nova perspectiva de fé na Igreja Batista Soul Livre, onde atua atualmente. A igreja oferece suporte espiritual e emocional às pessoas LGBT+, propondo uma vivência religiosa livre do fundamentalismo.
Fomos neste ano para a Igreja Batista Soul Livre porque vimos a necessidade de um auxílio maior para a nossa comunidade LGBT+, para ajudar essas pessoas a continuar com fé em Deus de uma forma saudável, sem fundamentalismo. Não acredito mais nesse Deus punitivo. Jesus Cristo morreu para salvar o mundo, não para condenar.