por Redação MundoMais
Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2025
A maioria das mulheres trans atendidas pelo Casarão Brasil Associação LGBTI, em São Paulo, foi expulsa da própria casa e viveu na rua por falta de apoio e aceitação familiar. É o cenário descrito em 46% dos depoimentos ao projeto que atua especificamente no acolhimento dessa população. Os números completos estão em relatório da instituição.
Documento
Relatório - Casarão Brasil Associação LGBTI
O equipamento funciona há 16 anos na capital paulista e tem apoio da Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, faz atendimento 24/7, garante moradia e cinco refeições por dia, com três meninas por quarto, em um antigo hotel que foi adaptado e reestruturado. Atualmente, enfrenta dificuldades e perda de patrocínio de multinacionais com sede nos EUA por causa do encerramento de práticas de diversidade, inclusão e equidade nas corporações e também por reflexo da onda crescente de conservadorismo em vários países, inclusive o Brasil.
"A maioria das pessoas acolhidas vem das regiões Norte e Nordeste, elas migram em busca de oportunidades. Apesar de todas as dificuldades, a cidade de São Paulo ainda oferece muitas possibilidades à população LGBT, principalmente para a população trans, por causa das políticas públicas e do programa municipal 'Transcidadania', que trabalha a elevação escolar e garante bolsa de um salário mínimo para a pessoa se locomover, usar transporte e ter alimentação, ir à escola e concluir o ensino fundamental e ensino médio, e procurar por uma carreira profissional", conta Rogério de Oliveira, coordenador do Centro de Cidadania LGBTI 'Cláudia Wonder' e presidente do Casarão Brasil Associação LGBTI.
Nesta quarta-feira, 29/1, Dia Nacional da Visibilidade Trans, a entidade lança o 'Calendário Trans', para ampliar o conhecimento e aprofundar discussões a respeito desse universo.
"Muita gente é jogada para fora de casa por causa da orientação sexual. Infelizmente, também pelo viés religioso, elas perdem o vínculo familiar e chegam aqui com uma mala ou apenas a roupa do corpo", diz Rogério de Oliveira. "Fazemos o acolhimento, damos formação, atendimento psicossocial, jurídico e pedagógico, com cursos de qualificação profissional".
Outro enfretamento da associação está relacionado ao consumo de álcool e ao uso de drogas. "É um problema real hoje na cidade de São Paulo, principalmente em relação à nossa população, por causa da solidão ou dessa ausência da família. As pessoas buscam outros refúgios, e a gente atua para reverter e mudar esse cenário", destaca o presidente da associação.
"Vivemos um momento extremamente conservador, empresas que antigamente nos apoiavam agora não apoiam. Todo dia é de sobrevivência, de luta. O Brasil, novamente, foi apontado no relatório da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) como um dos países que mais matam a população de mulheres trans e travestis, mas ao mesmo tempo é o país que mais consome pornografia. Então, é importante hoje, dia da visibilidade, e o calendário vem para isso, mostrar esse cenário, mostrar essas pessoas que trabalham, pagam impostos, têm uma vida dedicada à escola e ao estudo", afirma Rogério de Oliveira.